A review by fevi
A Sangue Frio by Truman Capote

5.0

O jornalista e escritor, Truman Capote, nasceu em Nova Orleans em 1924 e morreu no estado norte-americano da Califórnia em 1984, após ter uma parada cardíaca. Capote escreveu livros, peças de teatro, perfis jornalísticos e também trabalhou em grandes meios de comunicação, como nas revistas Harper’s Bazaar e The New Yorker. Entre os livros de sua autoria tem a pequena novela, Breakfast at Tiffany’s, que se tornou um filme de sucesso e no Brasil recebeu o título de Bonequinha de luxo. Mas a sua grande obra-prima e motivo por deixá-lo rico foi o livro “A sangue frio”. Obra essa que recebeu a classificação de non-fiction novel, ou “romance sem ficção” dada pelo próprio escritor. No entanto, a base desse estilo é o jornalismo literário. Segundo Ana Lúcia Santana, “O jornalismo literário é um estilo que une um texto jornalístico à literatura, com o objetivo de produzir reportagens mais profundas, amplas e detalhistas, com uma postura ética e humanizada.”

A idéia de escrever “A sangue frio” surgiu logo após a leitura de uma pequena nota no The New York Times, na qual falava sobre um crime no Kansas. Truman Capote ficou obcecado pelo o acontecimento e resolveu fazer uma reportagem que resultou no livro. Capote mostra em quatro grandes capítulos a história de uma família que foi assassinada, na pequena cidade de Holcomb no oeste do Kansas, e também a de seus assassinos. Ele conta com detalhes como vivia a família dos Clutter. Quais eram os seus costumes, o que cada membro fazia até o momento do homicídio.

Para conseguir todas as informações necessárias Capote inicia um processo de entrevistas que dura um ano e meio. Mas ele não usava gravadores ou blocos para as anotações, acreditava que isso poderia intimidar as pessoas. Então ele fazia daquela hora um momento de conversa. Apesar de ter uma boa memória não é possível afirmar que tudo o que Truman escreveu foi exatamente o que ele ouviu dos moradores. E do mesmo modo, a possibilidade dos locais terem inventado qualquer informação é viável.

Na transmissão de informações é necessário que haja total imparcialidade. E ter a verdade como algo essencial. Apesar de na prática isso não ser, às vezes, valorizado. E muitos afirmaram que Capote faltou com a veracidade em seus textos logo após a publicação. No posfácio da 7ª edição de 2009 do livro, escrito por Matinas Suzuki Jr., há uma parte mostrando a indignação de vários personagens em relação à falta de precisão no resultado final dos depoimentos. E quanto à indiferença que devia ser crucial também foi questionada, pois afirmavam que Capote tivera uma relação bem mais que fraternal com um dos matadores, o Perry Smith.

O recolhimento dos dados também não são o suficiente para recriar os todos os passos e descrever os sentimentos que aparecem no livro de Truman. Então é fácil deduzir que Capote usou um pouco da sua imaginação para descrever certas passagens do livro, independentemente do número de entrevistas. Mas não se pode dizer há um distanciamento nessa parte do jornalismo literário, pois nesse gênero existe uma visão pessoal, autoral sobre as coisas que acontecem ou aconteceram.

Perry Smith e Dick Hickcock os assassinos de parte da família Clutter cometeu esse tal dolo no período pós-guerra. Os norte-americanos ainda tentavam se recuperar das perdas, dos incidentes da 2ª Guerra Mundial ainda que a tenham ganhando. O choque foi grande para toda a nação. Que acompanharam e tentavam entender o motivo para aquele crime. Truman Capote com o seu trabalho de pesquisa que durou mais de ano e mais de cinco anos de elaboração até a publicação, contribuiu para que muitos cidadãos dos Estados Unidos pudessem entender o que havia acontecido. As versões de todos que acompanharam de perto: cidadãos de Holcomb, os investigadores, os jornalistas, os parentes das vítimas e dos réus. O resultado desse trabalho foi tão bem recebido que “A sangue frio” foi o livro mais vendido durante semanas. E mostra um período de aumento de delitos por lá, já que em pouco tempo outros atos deliquentes como esses ocorreram.

Em geral o conceito de romance não ficção embasado no jornalismo literário está bem apresentado em todo o livro. De forma clara é possível encontrar todas as características de um romance não ficção. Nele são encontradas partes da história, da realidade, da literatura, do jornalismo e também uma subjetividade que contrapõe a objetividade do jornalismo tradicional. Outros autores nos EUA também seguiram esse estilo. Foram Tom Wolfe, Gay Talese, Norman Maile e Joseph Mitchel. No Brasil temos a obra involuntária de Euclides da Cunha, “Os Sertões”, quando ele é enviado pelo o jornal “O Estado de São Paulo” ao interior da Bahia para cobrir as manifestações, essas posteriormente resultariam na guerra de Canudos. E a Revista Realidade, do grupo Abril, foi um grande modelo desse seguimento.
Truman Capote mostrou que é possível fazer uma boa literatura a partir dos assuntos factuais sem ter inventar muitas coisas. Pois essa realidade contada da forma adequada, sem grandes exageros ou floreios dos romances comuns, aproxima as pessoas. Narrar a toda a vida de seis pessoas, como no caso de “A sangue frio”, não é simples. Principalmente analisar as mentes de criminosos até o fim que levaram, depois de passar por todos os momentos.

O trabalho de Truman Capote pode ser compreendido facilmente e a leitura é leve e instigante. À medida que a história decorre sentimentos são expostos. Capote impõe um ritmo não muito intenso, mas relata com detalhes preciosos todo o processo. Tirando as impressões pessoais do autor que se envolveu explicitamente, a obra possuí todo o conteúdo necessário para estar entre os principais títulos do gênero. Os estudantes de comunicação, amantes de literatura irão aprender um pouco sobre o non-fiction ao lê-lo. Esse clássico da literatura norte-americana é um sucesso e quem procura uma história diferente dos romances antigos, encontrará nele uma mina de riquezas. Um livro audacioso e diferente. É a realidade contada de forma menos fria e mais cativante. Características encontradas em Capote que afirmou que tinha escrito uma obra-prima.