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A review by fevi
O Alegre Canto da Perdiz by Paulina Chiziane
5.0
#BingoLitNegra #LeiaNegros #LeiaMulheres #MulheresParaLer
Esse é o segundo livro da autora moçambicana, Paulina Chiziane, que leio e estou encantando ainda mais. A prosa poética já tinha me ganho em Ventos do Apocalipse, mas em O Alegre Canto da Perdiz só veio para confirmar o que tinha tocado na primeira obra que conheci da autora. Mas é preciso deixar claro que a história de O Alegre Canto da Perdiz não é tão bagunçada ou esquecida como em Ventos do Apocalipse.
O Alegre Canto da Perdiz começa depois que as mulheres de um vilarejo se assustam com uma mulher nua que aparece no rio. Elas acham que é uma maluca. Essa maluca é Maria das Dores filha de Delfina e José dos Montes. A partir disso Paulina começa a contar a história dessa família com enfoque em Delfina que é a nossa personagem principal. As mulheres, o matriarcado é o personagem principal. Delfina é o anti-herói dessa história que se passa no norte de Moçambique. É ela quem traz toda a desgraça que acontece dali em diante em sua família.
Enquanto narra as desgraças acometidas por Defilna, Chiziane, mostra as marcas que o período colonial deixou em terras moçambicanas. O racismo, a desvalorização do negro, o roubo das riquezas, os maus tratos. Chiziane mostra como os brancos marinheiros desgraçaram a terra, mas também insiste em mostrar que os negros também ajudaram nesse processo ao se tornarem assimilados e lutar contra a própria cultura e povo. Outro assunto analisado e demonstrado e a questão da mestiçagem, eugenia, melhoramento da raça. Delfina sempre diz que o negro é desgraça e só sofre e que o sonho dela é se casar com um marinheiro, colono branco para ter filhos mulatos e assim poder ascender na vida e fazer com que eles sofram menos. É uma realidade moçambicana que se confunde muito com a realidade brasileira.
Delfina consegue ter arrumar um homem branco para lhe dar filhos mulatos (termo que não gosto, mas a autora usa) e com isso surgem mais desgraças. Não só para ela, mas para a família toda. Quando estamos chegando ao fim a autora mostra uma solução meio deus ex-machina para juntar algumas pessoas e, com certeza, é meio forçado, mas nada que atrapalhe o enrendo. Até porque a literatura da Chiziane, ao meu ver, tem alguns recursos do realismo mágico. Posso estar enganado.
Para terminar tenho que destacar as fábulas intercaladas na parte final do livro em que Paulina Chiziane tenta mostrar o surgimento do mundo através das mulheres, o poder do matriarcado e como tudo foi por água abaixo quando os homens apareceram tomaram o poder das mulheres e as escravizaram. É fenomenal toda a discussão que Paulina propõe nesse livro partindo das mulheres e do colonização de Moçambique e portanto a ascensão do racismo e descaso com a população. É um livro grandioso e importantíssimo.
Super recomendo. É uma leitura maravilhosa, gostosa, poética. Vale super a pena conhecer a escrita da autora.
Esse é o segundo livro da autora moçambicana, Paulina Chiziane, que leio e estou encantando ainda mais. A prosa poética já tinha me ganho em Ventos do Apocalipse, mas em O Alegre Canto da Perdiz só veio para confirmar o que tinha tocado na primeira obra que conheci da autora. Mas é preciso deixar claro que a história de O Alegre Canto da Perdiz não é tão bagunçada ou esquecida como em Ventos do Apocalipse.
O Alegre Canto da Perdiz começa depois que as mulheres de um vilarejo se assustam com uma mulher nua que aparece no rio. Elas acham que é uma maluca. Essa maluca é Maria das Dores filha de Delfina e José dos Montes. A partir disso Paulina começa a contar a história dessa família com enfoque em Delfina que é a nossa personagem principal. As mulheres, o matriarcado é o personagem principal. Delfina é o anti-herói dessa história que se passa no norte de Moçambique. É ela quem traz toda a desgraça que acontece dali em diante em sua família.
Enquanto narra as desgraças acometidas por Defilna, Chiziane, mostra as marcas que o período colonial deixou em terras moçambicanas. O racismo, a desvalorização do negro, o roubo das riquezas, os maus tratos. Chiziane mostra como os brancos marinheiros desgraçaram a terra, mas também insiste em mostrar que os negros também ajudaram nesse processo ao se tornarem assimilados e lutar contra a própria cultura e povo. Outro assunto analisado e demonstrado e a questão da mestiçagem, eugenia, melhoramento da raça. Delfina sempre diz que o negro é desgraça e só sofre e que o sonho dela é se casar com um marinheiro, colono branco para ter filhos mulatos e assim poder ascender na vida e fazer com que eles sofram menos. É uma realidade moçambicana que se confunde muito com a realidade brasileira.
Delfina consegue ter arrumar um homem branco para lhe dar filhos mulatos (termo que não gosto, mas a autora usa) e com isso surgem mais desgraças. Não só para ela, mas para a família toda. Quando estamos chegando ao fim a autora mostra uma solução meio deus ex-machina para juntar algumas pessoas e, com certeza, é meio forçado, mas nada que atrapalhe o enrendo. Até porque a literatura da Chiziane, ao meu ver, tem alguns recursos do realismo mágico. Posso estar enganado.
Para terminar tenho que destacar as fábulas intercaladas na parte final do livro em que Paulina Chiziane tenta mostrar o surgimento do mundo através das mulheres, o poder do matriarcado e como tudo foi por água abaixo quando os homens apareceram tomaram o poder das mulheres e as escravizaram. É fenomenal toda a discussão que Paulina propõe nesse livro partindo das mulheres e do colonização de Moçambique e portanto a ascensão do racismo e descaso com a população. É um livro grandioso e importantíssimo.
Super recomendo. É uma leitura maravilhosa, gostosa, poética. Vale super a pena conhecer a escrita da autora.